Mostra Pasolini trouxe quatro filmes do mestre italiano para se discutir as questões estéticas e políticas levantas nas obras.
De 14 a 17 de Julho a Sala de Cinema Gilberto Gerlach recebeu a mostra que teve curadoria do crítico de arte Allende Renck.
A programação contou com quatro filmes de diferentes épocas do cineasta italiano, conhecido por sua poética, erudição e ativismo político, sempre começando às 20h.
Dia 14: Medéia
(1969, 118min)
Dir. Pier Paolo Pasolini, com Maria Callas, Massimo Girotti, Guiseppe Gentile.
Sinopse: Para retomar o reino que seu tio roubou de seu pai, Jasão (Giuseppe Gentile) rouba o velocino de ouro e seduz a poderosa feiticeira Medéia (Maria Callas), realeza em um local onde o poder surge de sacríficios humanos.
Ela mata o próprio irmão para fugir com seu amado. Anos depois, Medéia é abandonada por Jasão, que pretende se casar com a filha do rei. Traída, a feiticeira fará uma terrível vingança contra seu antigo amante.
Classificação 14 anos
Dia 15: Salò ou os 120 Dias de Sodoma
(1975, 188min)
Dir. Pier Paolo Pasolini, Roteiro Pupi Avati e Roland Barthes
Elenco: Paolo Bonacelli, Giorgio Cataldi, Umberto P. Quintavalle
Sinopse: Em 1944, na cidade de Saló ocupada por nazistas, no norte da Itália, quatro fascistas sequestram 16 jovens saudáveis e os aprisionam em um palácio perto de Marzabotto.
Além deles, há quatro mulheres de meia-idade, sendo que três delas relatam as histórias de Dante e de Sade, e a quarta acompanha ao piano.
Na mansão vigiada por guardas, os fascistas vão cometer todo tipo de experiências com os jovens, que passam a ser usados como uma fonte de prazer sexual, masoquismo e morte.
Classificação indicativa 18 anos.
Dia 16: Teorema
(1968, 118min)
Dir. Pier Paolo Pasolini
Elenco: Terence Stamp, Silvana Mangano, Massimo Girotti
Sinopse: Em Milão a vida de uma rica família burguesa é totalmente modificada por um misterioso visitante (Terence Stamp), que seduz a empregada, o filho, a mãe, a filha e finalmente o pai.
Além disto tem um contato intelectual com todos eles, convencendo-os da futilidade da existência, e após cumprir seu objetivo parte em poucos dias.
Após sua ida ninguém da família consegue continuar vivendo da mesma forma, sendo que cada um deles toma um caminho diferente: a mãe se entrega ao primeiro que surge, a empregada passa a levitar, o filho pinta quadros que suja com fezes, a filha se torna uma catatônica e o pai, um rico empresário, abandona sua fábrica, se desnuda em plena estação ferroviária de Milão e desaparece no deserto.
Classificação indicativa 18 anos.
Dia 17: O Evangelho Segundo São Mateus
(1964, 137min)
Dir. Pier Paolo Pasolini
Elenco: Enrique Irazoqui, Susanna Pasolini, Marcello Morante
Sinopse: A história de Jesus Cristo, do nascimento à ressurreição, a partir do texto de São Mateus. As parábolas, os primeiros discípulos, a revolta, a determinação, os milagres, a intolerância, a solidão e a impaciência.
Assim Jesus conseguiu uma legião de seguidores e também muitos inimigos.
Classificação indicativa 18 anos.
Texto de Curadoria:
MOSTRA PASOLINI
Allende Renck
Em 2022 comemoramos os 100 anos de um dos mais importantes cineastas que já no agraciou com suas obras, Pier Paolo Pasolini. Ao longo de sua obra, Pasolini de maneira absolutamente intransigente nos apresenta um panorama complexa das relações humanas e das angústias que a interação entre os sujeitos prontifica.
Nessa mostra, foram escolhidos quatro filmes que, de alguma maneira, sintetizam um pouco do que foi a densa obra cinematográfica do cineasta. Nela, exibiremos o filme Medéia, obra em que o cineasta adapta a tragédia grega de Eurípedes que é considerada a primeira obra dramática a focar na experiência da mulher e dá a ela a sua característica interpretação grandiosa. Também será exibido o filme Teorema, um filme sobre o desejo que toca de maneira aguda nas tensões que emergem da forma afetiva patológica com que se estrutura o sistema capitalista. A última obra de Pasolini, Salò, polêmica, escatológica e perturbadora, será exibida; um filme que tem o desconforto do espectador como objetivo e que, nessa trajetória, investiga profundamente a mais crua crueldade da qual é capaz o sujeito humano. Ainda por fim exibiremos O Evangelho Segundo São Mateus, uma abordagem da história bíblica que propõe um avanço político contemporâneo.
Esses filmes resumem (ainda que não sejam capaz de exaurir) as potências contidas na obra de Pasolini e juntos possibilitam uma formação teórica, estética e política do espectador que poucos cineastas conseguem colocar à disposição. Razão mais do que suficiente para comemorar os 100 anos desse artista que é tão nosso contemporâneo.
Produção Cinemática
Parceira Cineclube Cinema Unisul
Apoio MIS / FCC
