2º Festival de Cinema Negro de SC ocupa as telas brancas da capital

Com produção da Cinemática, aconteceu entre 23 e 26 de junho em Florianópolis o 2º Festival de Cinema Negro de Santa Catarina, colocando em debate a diversidade de olhares, narrativas e protagonismos, neste que é um dos lugares mais racistas do Brasil.

A curadoria dos filmes e coordenação geral é de Allende Renck, crítico de arte, professor e doutorando em Teoria Literária na UFSC.

O festival segue a discussão mundial sobre combate ao racismo e representatividade. Quando trazemos o assunto para o audiovisual, o Cinema Negro é destaque neste movimento. A importância da indústria cinematográfica é cada vez mais debatida por personalidades do meio – mesmo que a pequenos passos!

 

 

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A segunda edição do Festival Cinema Negro de Santa Catarina ocupou a tela de cinema do CIC entre os dias 23 e 26 de junho, com diversas atrações para o público de todas as idades, sempre com entrada gratuita.

A programação é composta por mesas temáticas de debate sobre temas relacionados às políticas públicas da Cultura Negra e o protagonismo, com sessões de projeção de filmes especialmente selecionados para o festival.

Foram apresentadas 04 mesas, 03 longas-metragens, com uma estreia nacional, eleita pela ABRACCINE e APCA (Associação dos Críticos de Arte de São Paulo) como melhor filme brasileiro de 2021, mais 20 curtas, divididos em mostras especiais e competitiva nacional.

No sábado a Mostra de Cinema Infantil, através do Cineclube, exibiu 10 curtas-metragens nacionais com o tema “protagonismo negro”, a partir das 16h.O 2º Festival Cinema Negro SC é um evento de ocupação de tela e não conta com patrocínio de leis culturais.

PROGRAMAÇÃO COMPLETA

Dia 23 – QUINTA-FEIRA

19h30 – Abertura:
Apresentação com atriz Joana Felício
Homenagens in Memoriam:
Hudson Pereira e Milton Gonçalves
Fala Curatorial de Allende Renck

20h – Filme Convidado:
JUDAS E O MESSIAS NEGRO
(Dir. Shaka King, EUA – 2021 – 126min – Legendado)
Sinopse: História de ascensão e queda de Fred Hampton (Daniel Kaluuya), ativista dos direitos dos negros e revolucionário líder do partido dos Panteras Negras. Um jovem proeminente na política, ele atrai a atenção do FBI, que com a ajuda de William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba infiltrando os Panteras Negras e causando o assassinato de Hampton.
Classificação Indicativa: 16

Dia 24 – SEXTA-FEIRA

19h30 – Mesa Temática:
Debate Sobre Protagonismo Negro
Com Marcelo 7 Cordas e Leandro Batz, mediação de Allende Renck.

20h – Filme de Estreia Nacional:
CABEÇA DE NÊGO
(Dir. Déo Cardoso, Brasil, 2021 – 85min)
Sinopse: Inspirado pelo livro dos Panteras Negras, o jovem Saulo tenta impor mudanças em sua escola e acaba entrando em conflito com alguns colegas e professores. Depois de reagir a um insulto racista, ele é expulso. Saulo se recusa a deixar as dependências da escola por tempo indeterminado até que a justiça seja feita, dando início a uma grande mobilização coletiva.
Classificação Indicativa: 12

Dia 25 – SÁBADO

16h Mostra de Cinema Infantil
Sessão Especial FCN: Curtas Brasileiros (51 min)
Classificação Indicativa: Livre

FÁBULA DE VÓ ITA
(de Joyce Prado e Thallita Oshiro, SP, ficção, 2016, 5min)
Gisa tem um cabelo cheio de vida e personalidade, mas seus colegas da escola vivem debochando dela por conta disso. Nesta fábula de fantasia e realidade contada entre panos e tecidos, Vó Ita envolve sua netinha Gisele para lhe mostrar a beleza das diferenças e o valor de sua própria identidade.

DELA
(de Bernard Attal, ficção, BA, 2018, 8 min)
Dela mora na Ilha de Itaparica com seu pai, Agenor. Na escola nova, os colegas acham seu nome estranho e seus cabelos esquisitos. A menina questiona seu pai, e a história que ele conta muda a forma como ela vê a si mesma!

MYTIKAH: O LIVRO DOS HERÓIS – EP. 10 MILTON SANTOS
(de Hygor Amorim e Jonas Brandão, animação, SP, 2019, 7 min)
Manga e Leco estão brincando de caça ao tesouro, mas Leco não sabe ler o mapa. Mytikah surge e os leva para conhecer Milton Santos. Milton conta sobre sua paixão por geografia e como ela pode nos ajudar a solucionar problemas.

DISQUE QUILOMBOLA
(de david Reeks, ficção, SP, 2012, 13 min)
Crianças do Espírito Santo conversam de um jeito divertido sobre como é a vida em uma comunidade quilombola e em um morro na cidade de Vitória. Por meio de uma genuína brincadeira infantil, revela-se o quanto a infância tem mais semelhanças do que diferenças.

LÁ DO ALTO
(de Luciano Vidigal, ficção, RJ, 2016, 8 min)
Um menino sonhador tenta convencer seu pai a conhecer o alto de uma montanha, na favela do Vidigal, que ele acredita ficar perto do céu, para poder se comunicar com sua avó, de quem ele sente saudades…

IEMANJÁ YEMOJÁ: A CRIAÇÃO DAS ONDAS
(de Célia Harumi Seki, animação, SP, 2016, 10 min)
A criação das ondas conta sobre Iemanjá, a Rainha do Mar, que recebe de Olodumare
o poder de devolver à terra as sujeiras jogadas pelos homens na água.

19h30 – Mesa Temática:
Debate Sobre Políticas Culturais
Com Gugie Cavalcanti e Kamila Maria, mediação Allende Renck

20h – Filme:
SUMMER OF SOUL (…OU, QUANDO A REVOLUÇÃO NÃO PÔDE SER TELEVISIONADA)
(Dir. Questlove, EUA, 2021, Documentário, 118 min – Legendado)
Sinopse: Em 1969, no mesmo verão em que ocorreu Woodstock, outro festival musical foi organizado no Harlem, em Nova York, para celebrar a música norte-americana e a história afro-americana. As imagens do concerto Harlem Cultural Festival, filmadas há 50 anos e inéditas até hoje, capturam um empolgante momento cultural nos Estados Unidos, embora subestimado historicamente. Entrevistas com artistas que participaram do evento são intercaladas com as apresentações de, entre outros, Stevie Wonder, Mahalia Jackson e Mavis Staples, Sly & the Family Stone e Nina Simone.
Classificação Indicativa: 16

Dia 26 – DOMINGO

19h30 Mesa Temática:
Debate Sobre Produção Audiovisual e Negritude
Com representantes da Cia Nosso Olhar & Coletivo NEGA

20h – Filmes de Curta-Metragem:
Mostra Convidados:
SÉRIE ESTÉTICAS DE SI: INSURREIÇÃO; SANKOFA; PUTA LIBERDADE
(Realização Usina da Imaginação, Dir. Rita de Cácia Oenning da Silva e Okado do Canal, Brasil, 2022 – 20 min)
CANTO PARA QUEM É DE NOITE
(Dir. Coletivo NEGA, Brasil, 2021 – 23 min)
Classificação Indicativa: 16

20h45 – Filmes:
Mostra Competitiva de Curtas-Metragens

AS VEZES QUE NÃO ESTOU LÁ
de Dandara de Morais (PE) – 25min
Rossana vivencia o mundo através de uma membrana borderline. Os movimentos da dança a ajudam a resistir aos duros golpes da realidade, isso enquanto ela tenta se encontrar.

QUEDA
de Lia Letícia (PE) – 10 min
Performance que atua com uma memória inventada, propondo simbolicamente ações possíveis para um futuro rompido, visitando pontos marcados pelo racismo em Recife.

ALFAZEMA
de Sabrina Fidalgo (RJ) – 25 min
É Carnaval e Flaviana vive o dilema de como se livrar de um amante que se recusa a sair do chuveiro.

SEM ASAS
de Renata Martins (RJ) – 20 min
Zu é um garoto negro de 12 anos. Ele vai à mercearia comprar farinha de trigo para a sua mãe e, na volta para casa, descobre que pode voar.

A MORTE BRANCA DO FEITICEIRO NEGRO
de Rodrigo Ribeiro (SC) – 10 min
Memórias do passado escravista brasileiro transbordam em paisagens etéreas e ruídos angustiantes. Através de um poético ensaio visual, uma reflexão sobre silenciamento e invisibilização do povo preto em diáspora, numa jornada íntima e sensorial.

DONA JACINTA
de Cia. Nosso Olhar, Dir. Leandro Batz e Wallace Almeida (SC) – 30 min
Dona Jacinta é uma experimentação audiovisual que traz reflexões sobre a marginalização da mulher negra e seu cabelo. O local em que essa sociedade patriarcal coloca corpos pretos e femininos. Atravessa histórias reais e nos leva ao debate interseccional que envolve raça, gênero e classe. Dona Jacinta é fé, força luta, liberdade e muita ginga.

Classificação Indicativa: 16

22h – Premiação:
Prêmio de Melhor Curta-Metragem Escolha do Público
Premiação de Categorias com Júri Especial
Encerramento com Joana Felício, Allende Renck e Lelette Coutto.

O projeto tem produção da Cinemática HUB, com apoio do Cineclube Cinema Unisul, Editora Cruz e Sousa e MIS-SC/FCC.

 

Texto Curatorial

O primeiro Festival Cinema Negro SC aconteceu em novembro de 2019 com o intuito de ser ao mesmo tempo o princípio de algo e o preenchimento de um espaço há muito demandado. Na ocasião, a falta que a chamada “primeiro Festival Cinema Negro, Santa Catarina” apresentava ecoava pelos corredores do Centro Integrado de Cultura, onde ocorreu, e parecia se estender por toda a cidade. O Festival aconteceu com grande presença popular, com participação da comunidade em diferentes atividades e com diferentes minicursos ao longo de uma semana.

O acontecimento da pandemia nos anos de 2020 e 2021, no entanto, parou o desenvolvimento natural do FCN que teve de ser colocado em pausa no período de incerteza quanto à possibilidade de encontro nas salas de cinema. Nesse sentido, a segunda edição do Festival, que acontece agora, marca o reencontro dessa temática fundamental, desse preenchimento de demanda, com o público, novamente no Cinema que se encontra no Centro Integrado de Cultura, quatro dias foram separados para celebrar de maneira tocante o audiovisual, a cultura e a experiência da negritude, na cidade de Florianópolis, no estado de Santa Catarina.

Na segunda edição, o Festival começa com um grito político, um grito negro que se manifesta nas interpretações de Daniel Kaluuya e LaKeith Stanfield na obra Judas e o Messias Negro dirigida por Shaka King. A obra, que tem como foco a relação de tensão entre o poder policial e o poder popular – representado, ali, pelo Partidos dos Panteras Negras, mais especificamente pelo Fred Hampton de Kaluuya. A importância do filme para abrir o Festival é centrar no povo preto a força de construção, organização e metamorfose de uma sociedade.

Essa relação de foco na comunidade pelas lentes da experiência negra é, de fato, o caminho neural que a segunda edição do Festival atravessa em termos de curadoria. Ao mesmo tempo em que o filme de abertura coloca o Partido dos Panteras Negras como exemplo de mobilização, o segundo filme apresentado no Festival, a obra Cabeça de Nêgo, do jovem diretor Deo Cardoso, coloca na experiência educacional dessa própria negritude – e na demanda que essa experiência tem de ser difundida – seu foco narrativo. Já a terceira obra cinematográfica do Festival, o documentário vencedor do Oscar de 2022, Summer of Soul, dirigido pelo icônico baterista da banda The Roots, Questlove, coloca em cena a experiência dessa comunidade em um êxtase estético.

Reunindo em um bairro – o Harlem em Nova Iorque – todos os nomes mais importantes da música negra da década de 1960, o Harlem Festival aconteceu no ano de 1969. Esse festival ficou, no entanto, apesar de filmado em sua totalidade, por muitas décadas quase que completamente desconhecido. O diretor, então, fez o trabalho de trazer para a superfície esse belo acontecimento submerso. Nesse esforço, o que temos na tela é a comunhão mais do que necessária entre a comunidade e sua arte. O diretor não se acanha em colocar na tela momentos longos de apresentações musicais, intercalados pela filmagem dos rostos, lindos e negros, que a essas músicas escutavam como que transportados a um lugar outro, de fato, seria possível pensar mesmo que a um “não lugar”, a uma utopia.

Nesse sentido, o Festival Cinema Negro – SC em sua segunda edição vem somar aos esforços de construção de uma utopia, dessa utopia que acontece quando a arte negra entre em comunhão com sua comunidade e dá a ver a possibilidade, ainda que instantânea, do que pode ser a verdadeira experiência estética, essa que acontece em conjunto.

Assim, encerram essa edição do Festival a apresentação de obras audiovisuais convidadas, produzidas por coletivos negros e focadas na experiência da negritude, bem como uma mostra competitiva de curtas que têm como foco essa mesma experiência. O Festival se inscreve em uma tradição de reinvenção. A tradição de, com aquilo que se tem, reinventar os possíveis e imaginar futuros outros que, então, se realizarão. Afinal de contas, o próprio Festival é já, também, essa coisa mesma que se projeta para então acontecer.

Allende Renck
Curador e Coordenador Geral
Ilha de Santa Catarina, Outono 2022

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Serviço:
Quando: de 23 a 26 de junho
Onde: Sala de Cinema Gilberto Gerlach (CIC), Centro Integrado de Cultura.
Av. Gov. Irineu Bornhausen, 5600 – Agronômica – Florianópolis/SC – CEP 88025-200‎
Local com Acessibilidade e pontos de ônibus ao redor.
Quanto: Entrada Gratuita – Sujeita à lotação da sala, por ordem de chegada

Recomendado uso de máscara.
Favor respeitar a Classificação Indicativa.

Ficha Técnica:
Projeção: Débora Herling
Coordenação Geral, Curadoria: Allende Renck
Responsável Legal e Direção Artística: Cinemática Hub
(CNPJ 31.474.756/0001-04)
Design Gráfico: Pedro MC
Apoio Cultural: Editora Cruz e Sousa
Parceria: Cineclube Cinema Unisul
Agradecimentos: Lelette Coutto, Mara Salla, Cid, Fabio Garcia, Taty Américo, Ana Ligia Becker (e equipe do MIS), ASCOM FCC.
Contatos: (48) 98821-9393 / (48) 98866-6012

PRESS RELEASE

https://drive.google.com/drive/folders/1EKqHEvAo4pSWe820F2HzNDqBakDayrYD?usp=sharing

 

 

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